Apresentação do dossiê
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APRESENTAÇÃO
O Textos para Discussão LabCit/GEDRI (TD) surgiu como uma iniciativa inovadora para preencher lacunas deixadas pelas revistas científicas tradicionais, que muitas vezes não dedicam espaço suficiente a temas essenciais para o desenvolvimento econômico e social e suas repercussões no território. Entre esses temas, destaca-se a circulação, o transportes e a logística, as infraestruturas de transportes e comunicações, o desenvolvimento regional e nacional e outros que, embora fundamentais, são frequentemente marginalizados nos debates acadêmicos convencionais.
O objetivo do TD é romper com os formatos tradicionais das revistas científicas, oferecendo uma plataforma mais dinâmica e acessível. Para isso, a publicação reúne textos curtos e objetivos, elaborados tanto por pós-graduandos e profissionais em formação quanto por pesquisadores renomados. Além disso, o TD inclui traduções de trabalhos internacionais relevantes, republicações de textos clássicos, entrevistas com especialistas e dossiês temáticos, que aprofundam discussões sobre assuntos específicos.
O primeiro dossiê do TD é dedicado a temas ligados à circulação, transportes e logística, áreas que desempenham um papel crucial no desenvolvimento econômico e social, mas que ainda carecem de maior visibilidade no meio acadêmico, especialmente na Geografia. A concepção do dossiê começou no início de 2024, fruto de uma colaboração entre docentes e pós-graduandos do Grupo de Estudos em Desenvolvimento Regional e Infraestruturas (GEDRI) e do Laboratório de Estudos sobre Circulação, Transporte e Logística (LabCit). Após um ano de planejamento e elaboração, o dossiê é finalmente lançado em março de 2025, consolidando-se como uma importante contribuição para o debate sobre esses temas.
O dossiê é composto por 24 (vinte e quatro) artigos, organizados em 8 (oito) sessões temáticas. Cada artigo, embora abordando perspectivas distintas, está conectado por uma temática transversal: a análise crítica dos sistemas de transportes, armazenamento e logística. Esse fio condutor possibilita que sejam exploradas questões como: infraestrutura (a importância de investimentos em rodovias, ferrovias, portos e aeroportos para o desenvolvimento nacional); geopolítica (o papel dos transportes e da logística nas relações internacionais e na integração regional); desenvolvimento regional e urbano (como os sistemas de transporte influenciam a dinâmica das cidades e regiões, promovendo ou limitando o crescimento econômico); a mobilidade e acessibilidade (os desafios de garantir transporte eficiente e inclusivo para toda a população); a sustentabilidade (a necessidade de integrar práticas logísticas e de transporte que minimizem impactos ambientais), entre outras.
Este dossiê explora as interfaces da Geografia com as áreas afins, por meio de artigos que tratam, precipuamente, da circulação, dos transportes, da logística, das infraestruturas e do desenvolvimento. Dois aspectos centrais influem este dossiê. O primeiro é a relevância das políticas nacionais e regionais de desenvolvimento para o Brasil, que abarcam, irrefutavelmente, as infraestruturas econômicas e sociais, os transportes, entre outros. O segundo é concatenar uma série de pesquisas, análises e perspectivas teóricas que colaboram para uma melhor compreensão das dinâmicas econômicas e territoriais e das articulações entre os agentes regionais, nacionais e internacionais (Estado, capital privado, instituições etc.).
Por um lado, houve uma relativa desvalorização na academia e nas políticas públicas das temáticas referentes à circulação, aos transportes e às infraestruturas e, consecutivamente, do próprio desenvolvimento brasileiro. Por outro, este dossiê busca mostrar a importância dessas questões para a economia, a sociedade, as interações espaciais e outros. As infraestruturas e, notadamente, os equipamentos e serviços de utilidade pública são valorosos para o desenvolvimento nacional e regional e devem ter realce nas políticas públicas e ações de intervenção a partir do planejamento territorial, como forma de arrefecer as desigualdades existentes no território brasileiro e viabilizar o crescimento econômico.
Além de sua relevância acadêmica, o dossiê também se destaca por sua capacidade de reunir pesquisadores de diferentes áreas e níveis de experiência, promovendo um diálogo interdisciplinar e plural. Essa diversidade de propostas enriquece a discussão, oferecendo insights valiosos para os formuladores de políticas públicas, gestores privados e a sociedade em geral. Mas também é um material de leitura para graduandos e pós-graduandos e para subsidiar o preparo de aulas e demais exposições, sobretudo nas universidades. O TD do GEDRI/LabCit, portanto, não apenas contribui com as publicações científicas, mas também se consolida como um espaço democrático para a discussão de temas relevantes à Geografia e demais ciências sociais. Temas esses que já compuseram os grandes tópicos de problematização e debate no âmbito de nossa disciplina, bastando que tenhamos acesso aos clássicos para notarmos tais preocupações.
Para mais, o dossiê foi publicado em comemoração aos 20 anos do Grupo de Estudos em Desenvolvimento Regional e Infraestruturas (GEDRI). Este grupo tem como característica ser multidisciplinar e interinstitucional e apresenta linhas de pesquisas relacionadas ao desenvolvimento nacional e regional, infraestruturas, transportes, logística, serviços e outros. Ao longo de duas décadas de existência, foram realizadas diversas atividades de pesquisa e extensão, publicações, defesas de trabalhos de conclusão etc., com a participação de pesquisadores (docentes e discentes) de várias instituições de ensino superior do Brasil e do exterior. Destaca-se as reflexões e as pesquisas sobre diversos temas relacionados à Geografia Humana, com ênfase à Geografia Econômica e à Geografia dos Transportes. Diante disso, o presente dossiê tem o propósito de valorizar as temáticas trabalhadas no GEDRI e, mais do que isso, a significância desses temas para a Geografia e o Brasil.
A primeira seção temática é “competitividade e estratégias logísticas” e conta com um artigo intitulado de “Fluidez, transportes e logística como elementos fundamentais da competitividade territorial”. Este texto é de autoria de Márcio Rogério Silveira, que discute como a fluidez, viabilizada por sistemas seletivos de transporte, armazenamento e logística, é essencial para garantir a competitividade entre os territórios. Trata-se de uma competitividade voltada, principalmente, para a atração de investimentos e que, em grande medida, atende às demandas corporativas por maximização de lucros. A partir dos anos de 1990, a gestão dos países passou a ser comparada a das empresas, com foco em eficiência e atração de investimentos. No entanto, essa abordagem pode levar à exploração excessiva de recursos, sem necessariamente promover o desenvolvimento sustentável. A fluidez territorial, garantida por sistemas logísticos eficientes, é fundamental para integrar as regiões aos fluxos globais, mas também pode ser utilizada para ampliar a extração de mais-valia, reforçando dinâmicas de desigualdade. No contexto brasileiro, políticas neoliberais voltadas à promoção da competitividade territorial, especialmente em escalas subnacionais, priorizam a atração de investimentos externos. Muitas vezes, isso ocorre em detrimento do desenvolvimento nacional equitativo, resultando em desigualdades regionais e locais, além de uma crescente dependência do capital internacional.
A segunda sessão temática intitulada “Infraestruturas de transportes” é composta pelos artigos “Modernização do transporte e capital estrangeiro: a geografia histórica da ferrovia no Haiti do século XX”, de André Yves Pierre, que trata da relação entre o capital estrangeiro e o desenvolvimento das ferrovias no Haiti no século XX. A dependência do Estado haitiano de contratos com estrangeiros resultou em uma relação de controle, afetando o desenvolvimento econômico e social do país. A pesquisa qualitativa baseada em fontes documentais analisa as implicações dessa dependência.
O artigo “O setor portuário e marítimo brasileiro e suas reestruturações recentes”, de autoria de Nelson Fernandes Felipe Junior, analisa as dinâmicas referentes ao transporte de cabotagem e longo curso, aos investimentos, às modernizações, aos pontos de estrangulamento existentes, às estratégias das grandes empresas que compõem os oligopólios setoriais, entre outros. Apesar dos avanços serem relativos, houve aumento no nível de competitividade e eficiência das operações portuárias no país, com incorporação de novas tecnologias (equipamentos, softwares etc.), mudanças normativas e tributárias, aprimoramento da logística e outros. A maior integração econômica e comercial do Brasil a partir da década de 1990 e as modernizações ocorridas produziram repercussões no setor portuário e marítimo nacional. Os portos e o transporte marítimo favorecem a circulação de mercadorias no território, as exportações, as importações e a economia nacional, com participação relevante no comércio exterior. Outrossim, a atuação dos operadores logísticos e dos armadores são imprescindíveis na formação de uma rede portuária hierarquizada mundial, que atua em diversas escalas. Com a pretensão de reduzir o custo de transporte, aprimorar as atividades realizadas e conquistar grandes mercados, as corporações adotam estratégias, como os joints e a constituição de alianças.
O setor portuário de Sergipe e Alagoas: modernizações, pontos de estrangulamento e fluxos de mercadorias, de Ronald dos Santos Pereira, Eidy Edwain Arndt Semoto e Sulamita Oliveira Simões se propõe a analisar a dinâmica portuária e marítima de Sergipe e Alagoas, considerando fluxos de mercadorias e pontos de estrangulamento. A reestruturação econômica e o modelo de concessão neoliberal têm impactos significativos no setor. A pesquisa combina bibliografia, trabalho de campo e análise de dados.
A região geográfica imediata de Campo Mourão/PR e a duplicação da PR – 317, de Cristina de Oliveira dos Santos, trata dos impactos da duplicação da PR-317, realizada pela concessionária VIAPAR, na região de Campo Mourão. Embora a duplicação tenha trazido mais segurança e benefícios, houve protestos em 2015 devido à passagem da rodovia por áreas urbanas. O objetivo é verificar se os impactos negativos percebidos pela população de Engenheiro Beltrão, Ivailândia e Peabiru/PR são reais ou equivocados, considerando aspectos como despovoamento, segregação espacial e prejuízos econômicos.
O artigo A situação e a posição político-geográfica da infraestrutura de transportes em Guarapuava/PR, de João Matheus Alfinovicz e Márcia da Silva analisa o papel da infraestrutura de transporte em Guarapuava, Paraná, considerando a influência dos setores público e privado ao longo do tempo. Utilizando as categorias de posição e situação geográfica de Friedrich Ratzel, a pesquisa revela que Guarapuava desempenha uma função central regional. A análise crítica as políticas em escala local e sugere a necessidade de investimentos em infraestrutura, estímulo econômico e planejamento urbano.
A próxima sessão está voltada ao tema “Planejamento, estratégias e gestão de transportes” e apresenta os artigos Concessões aeroportuárias no Brasil: uma contextualização do Aeroporto Internacional de Natal, de Rodrigo Vially Campos Alves e Luiz Andrei Gonçalves Pereira, trabalho que analisa a concessão do Aeroporto Internacional de Natal ao setor privado entre 2014 e 2024. A pesquisa utiliza revisão bibliográfica e dados estatísticos oficiais para entender o modelo de concessão aeroportuária no Brasil. O estudo destaca a importância da iniciativa privada na gestão e expansão dos aeroportos, mas também aborda os desafios e limitações do modelo, como a devolução do aeroporto à União e sua posterior relicitação.
Rede de transporte fluvial no Rio Madeira: a circulação de passageiros e mercadorias entre os municípios de Manicoré e Manaus, Amazonas, Brasil, de Diogo Ferreira Ribeiro e Kelyan Lago dos Anjos, artigo que apresenta uma análise acerca do transporte fluvial misto na hidrovia do Madeira, entre Manaus e Manicoré, destacando as dinâmicas de transporte de passageiros e mercadorias. A rota é uma das principais vias de transporte fluvial na Amazônia, com embarcações transportando mercadorias industriais e agrícolas. A evolução tecnológica tem mudado as formas de viagem, com novas opções de compra de passagem e acesso à internet a bordo.
O artigo Circulação e exploração do território: os transportes no Plano de Desenvolvimento Econômico Sustentável “Piauí 2050”, de Simone Rodrigues da Silva e Carlos Rerisson Rocha da Costa analisa as propostas do Plano de Desenvolvimento Econômico Sustentável do Piauí (“Piauí 2050”) relacionadas aos transportes e circulação. A pesquisa, baseada em fontes documentais e bibliográficas, destaca os investimentos e obras previstas e a articulação entre a circulação e as atividades econômicas estratégicas. Os resultados apontam que os transportes são fundamentais para o desenvolvimento sustentável do estado.
A sessão “Inovações em transportes, logística e armazenamento” contempla os trabalhos Otimização da distribuição de medicamentos essenciais em unidades básicas de saúde, de Kayo Barbosa Costa, David Gabriel de Barros Franco, Warton da Silva Souza e Cristina Vieira da Costa, artigo que aborda a importância da logística na administração pública, especialmente no Sistema Único de Saúde (SUS) em Araguaína, Tocantins. A pesquisa utiliza métodos de Pesquisa Operacional para otimizar as rotas de entrega de medicamentos, reduzindo o percurso em 31,3% e economizando recursos e tempo. O estudo contribui para a eficiência do atendimento aos pacientes e oferece subsídios para gestores públicos aprimorarem as políticas de saúde locais.
Pesquisa operacional aplicada à otimização da distribuição de vacinas antirrábicas: um estudo de caso em Araguaína, Tocantins, de Pedro Henrique Rodrigues Aguiar, David Gabriel de Barros Franco, Warton da Silva Souza e Leonardo Pinheiro da Silva, focado na otimização da distribuição de vacinas antirrábicas em Araguaína, Tocantins, visando melhorar a eficiência logística do Centro de Controle de Zoonoses. A pesquisa propõe um modelo matemático para desenvolver rotas eficientes, reduzindo custos operacionais e melhorando a qualidade do serviço. Os resultados indicam que a nova roteirização pode reduzir significativamente os custos e melhorar a eficiência da distribuição de vacinas.
E o artigo Notas sobre a eletrificação do transporte público e a questão nacional da indústria do ônibus, de João Henrique Zoehler Lemos com o seu objetivo de apresentar uma reflexão sobre a eletrificação da frota de ônibus no Brasil, destacando a importância do fortalecimento da indústria nacional para evitar dependência de importações. O artigo parte do plano empírico da capital estadual catarinense Florianópolis e argumenta que o Brasil pode desenvolver melhor a sua capacidade endógena para produzir ônibus elétricos e que inovações institucionais podem fortalecer essa produção interna, impulsionando o setor de material de transporte rodoviário, bem como o dos demais modais. O texto também aborda questões atinentes aos serviços de utilidade pública como o transporte de passageiros.
A sessão “Transporte de cargas (aéreo, rodoviário, ferroviário, hidroviário)” apresenta os artigos O transporte de cargas para a cidade de Manaus nos períodos de vazante extrema em 2023 e em 2024: apontamentos e reflexões iniciais, de Thiago Oliveira Neto e analisa o transporte de carga para Manaus em 2023 e 2024, considerando a vazante extrema dos rios amazônicos e a trafegabilidade da rodovia BR-319. A pesquisa revela que, apesar dos desafios, a região tem visto a inserção de novas configurações de transbordo de cargas e o uso pleno da BR-319, garantindo a fluidez territorial na Amazônia.
Logística e uso corporativo do território: uma avaliação a partir do Grupo BP Bunge Bioenergia, de Matheus Eduardo Souza Teixeira trata da logística de exportação de derivados de cana-de-açúcar pelo Grupo BP Bunge Bioenergia, destacando como a empresa utiliza estratégias de racionalização da produção e uso corporativo do território para maximizar lucros. A pesquisa mostra que a divisão territorial do trabalho dentro da corporação revela o poder da empresa em controlar a produção complexa em vastas áreas do território.
A sessão seguinte, “Transportes, armazenamento e logística do setor mineral e agroindustrial” é formada pelos trabalhos Diagnóstico do sistema de transportes na confluência com a exploração de hidrocarbonetos no Amapá, de Olavo Fagundes da Silva e apresenta uma síntese acerca da infraestrutura de transporte na costa amapaense, destacando as limitações e necessidades para apoiar a exploração de hidrocarbonetos na região. A pesquisa revela que o sistema de transporte aquaviário, aeroviário e rodoviário está em situação precária, com poucos investimentos, o que pode comprometer a segurança ambiental e logística da exploração.
O artigo Redes geográficas e a circulação territorial: uma abordagem a partir da produção de commodities no Mato Grosso do Sul, de Fernando Figueiredo Aguillera e Rodrigo Rocha da Silva aborda a distribuição da produção de commodities em Mato Grosso do Sul e as redes utilizadas para a circulação dessas mercadorias. A pesquisa identifica os principais produtos exportados, destinos internacionais e a organização da circulação territorial para atender as demandas do mercado internacional. O estudo conclui com uma discussão sobre os processos de circulação dessas commodities por meio de eixos de integração rodoviário, ferroviário e hidroviário no estado.
No conjunto de trabalhos sobre o “Transportes de pessoas (aéreo, rodoviário, ferroviário, hidroviário)”, temos os trabalhos Transformações tecnológicas e aviação regional no Brasil: rotas e escalas em Santa Catarina 1945-1965, de Alcides Goularti Filho e Yuri Damasio, e apresenta que o período pós-Guerra até o final dos anos 1960 foi marcado pela expansão da aviação regional, com companhias aéreas de pequeno e médio porte conectando cidades do interior. No Brasil, esse período é considerado o segundo ciclo da aviação comercial, caracterizado pela aviação regional. A pesquisa destaca a relação entre rupturas tecnológicas e o desempenho da aviação regional, com foco em Santa Catarina.
Redes geográficas e a organização espacial do transporte rodoviário interestadual de passageiros: o nodal catarinense de Florianópolis, de Bruno Candido dos Santos aborda o transporte rodoviário interestadual de passageiros, com foco no papel estratégico do nodal de Florianópolis/SC, que desempenha uma importante função como centro de conexão para o estado de Santa Catarina e a Região Sul.
A recente organização territorial do transporte aéreo no Brasil: uma perspectiva da aviação comercial após a pandemia, de Lucas Azeredo Rodrigues apresenta que depois da pandemia, o setor aéreo brasileiro enfrenta novos desafios, como centralização de capital e concentração de fluxos aéreos. Este estudo analisa as estratégias logísticas adotadas pelas companhias aéreas e seus impactos na topologia dos fluxos aéreos, destacando a emergência de hubs regionais e a redução de voos regionais. O estudo ressalta a necessidade de intervenção estatal para reduzir desigualdades regionais e garantir serviços aéreos equitativos.
A sessão “Mobilidade e acessibilidade em espaços urbanos e regionais” contempla os trabalhos A mobilidade urbana na Região Metropolitana da Grande São Luís, Maranhão, Brasil: a prioridade se impõe? de Antônio José de Araújo Ferreira, artigo que traz uma análise das condições de mobilidade urbana na Região Metropolitana da Grande São Luís (RMGSL), instituída em 1998. A pesquisa revela que a RMGSL abrange 13 municípios, com uma mancha urbana que cresceu 205,57% entre 1991 e 2017. A região concentra uma parcela significativa do PIB estadual, população e frota de veículos do Maranhão, destacando a necessidade de planejamento e gestão eficazes para atender às demandas de mobilidade.
O trabalho Interações espaciais, transporte público e demandas por mobilidade e acessibilidade na Ilha do Maranhão, de Juan Guilherme Costa Siqueira e Rodrigo Giraldi Cocco também contribui para o tema no contexto regional de São Luís, partindo de uma análise histórica da cidade portuária e como moldou seu desenvolvimento urbano e demandas por mobilidade e acessibilidade. A centralização econômica no Porto de São Luís priorizou atividades portuárias e comerciais, negligenciando demandas internas de mobilidade. A expansão urbana e crescimento populacional aumentaram a demanda por transporte público, que não foi atendida. O modelo econômico concentrador e a gestão urbana negligente agravaram os desafios de mobilidade, exclusão socioespacial e falta de investimentos em soluções integradoras.
O artigo Mobilidade urbana e acesso ao campus: um estudo das interações espaciais entre bairros de Manaus e a Universidade Federal do Amazonas, de Cristiano da Silva Paiva investiga a mobilidade urbana e o acesso ao campus da UFAM em Manaus, destacando as desigualdades socioespaciais enfrentadas por estudantes de bairros periféricos. O trabalho revela que o transporte coletivo é ineficiente, gerando trajetos mais longos e menos eficientes, especialmente para estudantes de áreas mais distantes. O estudo enfatiza a necessidade de políticas de mobilidade urbana que promovam a equidade de acesso ao ensino superior, melhorando as condições de transporte público.
O trabalho Transporte metropolitano e espaço urbano: o metrô de São Paulo enquanto um sistema técnico, de Lúcio Cerri Guimarães analisa o sistema metroviário de São Paulo, destacando sua importância na organização do transporte público e na localização de atividades urbanas. A pesquisa revela que o metrô apresenta uma distribuição desigual, com infraestruturas concentradas na área central enquanto as periféricas são atendidas por outros modais. O estudo identifica padrões de alta demanda de passageiros em estações com interligações modais e áreas comerciais, evidenciando ainda o papel estruturante e transformador do transporte metroviário.
O artigo Trabalho por aplicativo na Região Metropolitana de Curitiba: uma proposta para a mensuração do fenômeno no setor de transportes, de Thiago Magalhães Borges apresenta uma análise sobre o crescimento do trabalho por aplicativo na Região Metropolitana de Curitiba, especialmente nas atividades de transporte de passageiros e mercadorias. Utilizando microdados da PNADC de 2014 a 2023, a pesquisa revela um aumento substancial do número de trabalhadores por conta própria nesse setor, superando o crescimento do emprego total e informal. O estudo conclui que o método utilizado pode ser útil para estimar o número de trabalhadores por aplicativo, apesar de suas limitações.
Desejamos uma boa leitura e que este dossiê possa contribuir para debates tão importantes, tanto para a Geografia, quanto para as demais ciências sociais, sobretudo face aos atuais desafios geoeconômicos das realidades brasileira e mundial.
Os organizadores
Márcio Rogério Silveira
Rodrigo Giraldi Cocco
Nelson Fernandes Felipe Jr
Lucas Azeredo Rodrigues
João Henrique Zoehler Lemos