Trabalhos sobre circulação e transportes no 35º Congresso Internacional de Geografia

27/08/2024 11:06

Em Dublin (Irlanda), no período de 24 a 30 de agosto, está ocorrendo a 35ª edição do Congresso Internacional de Geografia [1]. A primeira edição foi realizada em 1871, em Antuérpia, na Bélgica [2], no momento de emergência da Geografia moderna. Organizada pela União Geográfica Internacional (International Geographical Union – IGU), esta edição também conta com a cooperação da Sociedade Geográfica da Irlanda.

No programa do congresso há um grupo de trabalho dedicado ao tema da circulação e dos transportes. Trata-se do grupo de trabalho 41 – Transporte e Geografia. Estas breves notas reproduzirão os temas das sessões de trabalho, sobretudo para observarmos os temas correntes no grande evento mundial de nossa disciplina.

As sessões de apresentação de trabalhos contaram com os seguintes eixos temáticos:

  • Desenvolvimento sustentável orientado ao trânsito (STOD): novas perspectivas e avanços
  • Estrada, ferrovia e bonde - geografia da mobilidade
  • Geografia do transporte aéreo
  • Geografia do trem de alta velocidade
  • Justiça espacial na mobilidade urbana inteligente
  • Na esteira da transformação social e tecnológica: revisitando o futuro da mobilidade
  • Novas tendências de transporte rural e sustentabilidade rural
  • Oportunidades e desafios emergentes para a equidade no transporte em um mundo rapidamente digitalizado
  • Portos médios, pequenos e periféricos e desenvolvimento territorial
  • Progresso na pesquisa de mobilidade compartilhada
  • Refazendo o espaço por meio de experimentos urbanos
  • Redes de transporte a longo prazo
  • Seguro ou móvel? Navegando nas transições climáticas e de mobilidade

Entre as comunicações presentes nos eixos temáticos acima, podemos destacar os seguintes:

O conjunto completo de trabalhos apresentados podem ser acessados neste link [3], onde os demais grupos e eixos temáticos podem ser visualizados.

Para finalizarmos, cabem dois destaques. Um para o tema dos transportes públicos de passageiros. Podemos destacar, a partir das comunicações propostas no evento, que nos países centrais capitalistas há uma presença massiva de novas tecnologias da informação para o planejamento e o monitoramento dos serviços ofertados. Contudo, apesar disso, permanecem desafios para a superação da contradição existente entre os serviços de transportes de caráter individual e coletivo. Esse é um dos grandes desafios do presente. O maior exemplo remonta ao cenário da frequente oposição entre, de um lado, o transporte coletivo operado nas cidades, áreas urbanas etc. e, de outro, o transporte individual ofertado por plataformas eletrônicas de Mobility as a Service (MaaS). A condução de um planejamento territorial que articule ambas as dimensões das redes de transportes é, portanto, uma necessidade que se torna comum aos diferentes Estados-nação. Algo que se torna ainda mais urgente diante do caráter mundializado dos grandes players globais de MaaS.

O segundo destaque se refere à difusão das redes ferroviárias de alta velocidade. É um dos temas amplamente tratados nas comunicações, cabendo menções ao caso chinês. Ao longo das últimas décadas, a China vem demonstrando a acelerada ascensão no desenvolvimento de sua rede ferroviária de alta velocidade. A rede chinesa de trens de alta velocidade, que começou a ser desenvolvida no início dos anos 2000, saltou de 672 km em 2008 para os mais de 42,2 mil km em 2022 [4]. Esse crescimento foi impulsionado por investimentos massivos em infraestrutura, tecnologias avançadas e uma forte âncora no planejamento territorial. Este, por sua vez, orientado ao desenvolvimento econômico-social e à soberania nacional.

[1] https://igc2024dublin.org/

[2] https://igu-online.org/events/international-geographical-congress/

[3] https://igc2024dublin.org/programme/congress-programme/

[4] https://www.stats.gov.cn/sj/ndsj/2023/

Notas sobre a política neoliberal no Paraná

06/07/2024 12:00

Por prof. Dr. Nelson Fernandes Felipe Junior
Universidade Federal da Integração Latino-Americana (UNILA)
Docente do curso de Geografia (Licenciatura e Bacharelado) e do Programa de Pós-Graduação em Integração Contemporânea da América Latina (PPGICAL)

A classe trabalhadora do estado do Paraná vem sofrendo nos últimos anos com o governo de Ratinho Júnior, em decorrência da política neoliberal e dos ataques e prejuízos por parte dos funcionários públicos, especialmente os professores. Considerando o momento adverso, este texto tem como objetivo apresentar dois fatos relevantes que evidenciam esse contexto, quais sejam: a transferência da Copel ao capital privado e a concessão de escolas públicas.

O caso da Copel

Ratinho Júnior no leilão da Copel Telecom, em 2020 (foto: Rodrigo Félix /AEN; fonte: Brasil de Fato).

O início da desestatização da Companhia Paranaense de Energia (Copel) ocorreu em novembro de 2020, quando o grupo paulista Bordeaux Fundo de Investimento e Participações Multiestratégia adquiriu a Copel Telecom – empresa responsável pelo setor de telecomunicações da estatal paranaense – em leilão realizado na B3 (a Bolsa de Valores de São Paulo). O mesmo Fundo de Investimento tinha adquirido, em 2020, o controle da Sercomtel Telecomunicações – empresa que tinha como principais acionistas a Prefeitura de Londrina (55%) e a Copel (45%) (COPEL, 2020).

Apesar de grande parte da mídia, dos partidos políticos e dos segmentos burgueses apoiarem a decisão do governo estadual, a transferência da Copel Telecom ao capital privado representa um equívoco do ponto de vista do desenvolvimento econômico e social, e elucida a política neoliberal do atual governo do Paraná. Com esse processo de simples transferência do patrimônio público ao capital privado, a Copel Telecom tem como premissa focar os investimentos em localidades que sejam mais lucrativas à empresa, desfavorecendo, portanto, os grupos de menor renda e as regiões e/ou cidades que possuem um reduzido mercado consumidor de internet.

A Copel Telecom era uma empresa dinâmica e lucrativa e, segundo diversos especialistas, realizava um dos melhores serviços de internet do país (totalmente em fibra óptica), sendo importante para a economia e a sociedade paranaense, especialmente considerando a tecnologia 5G. Além disso, a própria Companhia Paranaense de Energia utilizava-se dos serviços e da infraestrutura da Copel Telecom para realizar as operações no sistema elétrico no estado do Paraná.

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GEDRI no XV ENANPEGE

18/10/2023 20:12

O GEDRI (Grupo de Estudos em Desenvolvimento Regional e Infraestruturas) esteve presente na organização do Grupo de Trabalho (GT) 10, do XV Encontro Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Geografia. O evento, sediado em Palmas (TO), na Universidade Federal do Tocantins, foi realizado entre os dias 9 e de 13 de outubro.

Intitulado "Desenvolvimento regional, redes técnicas e reestruturação produtiva e financeira", o GT contou com a participação da Prof.ª Dr.ª Lisandra Pereira Lamoso (UFGD) e do Prof. Dr. Márcio Rogério Silveira (UFSC), ambos na coordenação do grupo. Durante os trabalhos, também estiveram presentes o Prof. Dr. Rodrigo Giraldi Cocco (UFSC) e os estudantes de doutorado Juan Guilherme Siqueira, Lucas Azeredo Rodrigues e Rafael Matos Felácio, todos vinculados à UFSC.

A seguir, temos a breve descrição do histórico do GT. O tema do Desenvolvimento Regional tem se mostrado cada vez mais importante para o entendimento das mudanças nas estruturas produtivas e nas infraestruturas/redes técnicas que estão na base da acumulação capitalista e da reorganização da economia mundial. O estudo do Desenvolvimento Regional permite uma análise crítica das formas de políticas públicas, regulação e investimentos do Estado no território; assim como identificar as principais características da atuação das corporações e seu papel na internacionalização e financeirização da produção. São temas também atinentes à discussão sobre o desenvolvimento regional brasileiro, os embates entre capital x trabalho, os conflitos de interesses envolvidos nestes embates; assim como o papel do Brasil na atual divisão internacional do trabalho.

Este GT tem origem na discussão acumulada pelo Grupo de Estudos em Desenvolvimento Regional e Infraestruturas (GEDRI), em funcionamento desde o ano de 2005, junto com o Grupo de Estudos da Dinâmica Econômica (GEDE), desde 2008, e do Núcleo de Pesquisa Espaço e Economia (NuPEE) desde 2008. O GT proposto tem o objetivo de aglutinar 5 eixos principais de pesquisa: 1) Circulação, transportes e logística; 2) Financeirização do território nacional e internacionalização da economia brasileira; 3) Políticas públicas e desenvolvimento regional; 4) Desenvolvimento econômico, política industrial e comércio exterior; 5) Reestruturação produtiva e industrialização. Busca-se, também, a criação de espaços de discussão que permitam a socialização de experiências de pesquisa e a reunião de um acervo qualificado de discussões, cujos desdobramentos podem tanto contribuir para a qualificação dos quadros da pós-graduação em geografia no Brasil assim como se constituem em contribuição ao debate de problemas nacionais contemporâneos.