Trabalhos sobre circulação e transportes no 35º Congresso Internacional de Geografia
Em Dublin (Irlanda), no período de 24 a 30 de agosto, está ocorrendo a 35ª edição do Congresso Internacional de Geografia [1]. A primeira edição foi realizada em 1871, em Antuérpia, na Bélgica [2], no momento de emergência da Geografia moderna. Organizada pela União Geográfica Internacional (International Geographical Union – IGU), esta edição também conta com a cooperação da Sociedade Geográfica da Irlanda.
No programa do congresso há um grupo de trabalho dedicado ao tema da circulação e dos transportes. Trata-se do grupo de trabalho 41 – Transporte e Geografia. Estas breves notas reproduzirão os temas das sessões de trabalho, sobretudo para observarmos os temas correntes no grande evento mundial de nossa disciplina.
As sessões de apresentação de trabalhos contaram com os seguintes eixos temáticos:
- Desenvolvimento sustentável orientado ao trânsito (STOD): novas perspectivas e avanços
- Estrada, ferrovia e bonde - geografia da mobilidade
- Geografia do transporte aéreo
- Geografia do trem de alta velocidade
- Justiça espacial na mobilidade urbana inteligente
- Na esteira da transformação social e tecnológica: revisitando o futuro da mobilidade
- Novas tendências de transporte rural e sustentabilidade rural
- Oportunidades e desafios emergentes para a equidade no transporte em um mundo rapidamente digitalizado
- Portos médios, pequenos e periféricos e desenvolvimento territorial
- Progresso na pesquisa de mobilidade compartilhada
- Refazendo o espaço por meio de experimentos urbanos
- Redes de transporte a longo prazo
- Seguro ou móvel? Navegando nas transições climáticas e de mobilidade
Entre as comunicações presentes nos eixos temáticos acima, podemos destacar os seguintes:
- A integração entre o transporte de passageiros, cargas e correios em áreas rurais da China por meio da frota de ônibus eletrificada e subsidiada pelo Estado
- O papel da fluidez do transporte aéreo de passageiros na conectividade das cidades mundiais e seus desdobramentos
- Estudos de caráter geo-histórico sobre as redes e infraestruturas de transportes
- A mobilidade como serviço (MaaS), os serviços de transporte por aplicativo
- A dinâmica dos grandes cruzeiros marítimos na reprodução do desenvolvimento geográfico desigual mundo afora
- O impacto do desenvolvimento da rede ferroviária na geoeconomia chinesa e seus impactos na dinâmica demográfica
- Os ganhos e perdas diante da liberalização do mercado ferroviário espanhol
- As mudanças das políticas de transportes da União Europeia e uma nova postura geopolítica frente à Rússia
O conjunto completo de trabalhos apresentados podem ser acessados neste link [3], onde os demais grupos e eixos temáticos podem ser visualizados.
Para finalizarmos, cabem dois destaques. Um para o tema dos transportes públicos de passageiros. Podemos destacar, a partir das comunicações propostas no evento, que nos países centrais capitalistas há uma presença massiva de novas tecnologias da informação para o planejamento e o monitoramento dos serviços ofertados. Contudo, apesar disso, permanecem desafios para a superação da contradição existente entre os serviços de transportes de caráter individual e coletivo. Esse é um dos grandes desafios do presente. O maior exemplo remonta ao cenário da frequente oposição entre, de um lado, o transporte coletivo operado nas cidades, áreas urbanas etc. e, de outro, o transporte individual ofertado por plataformas eletrônicas de Mobility as a Service (MaaS). A condução de um planejamento territorial que articule ambas as dimensões das redes de transportes é, portanto, uma necessidade que se torna comum aos diferentes Estados-nação. Algo que se torna ainda mais urgente diante do caráter mundializado dos grandes players globais de MaaS.
O segundo destaque se refere à difusão das redes ferroviárias de alta velocidade. É um dos temas amplamente tratados nas comunicações, cabendo menções ao caso chinês. Ao longo das últimas décadas, a China vem demonstrando a acelerada ascensão no desenvolvimento de sua rede ferroviária de alta velocidade. A rede chinesa de trens de alta velocidade, que começou a ser desenvolvida no início dos anos 2000, saltou de 672 km em 2008 para os mais de 42,2 mil km em 2022 [4]. Esse crescimento foi impulsionado por investimentos massivos em infraestrutura, tecnologias avançadas e uma forte âncora no planejamento territorial. Este, por sua vez, orientado ao desenvolvimento econômico-social e à soberania nacional.
[1] https://igc2024dublin.org/
[2] https://igu-online.org/events/international-geographical-congress/
[3] https://igc2024dublin.org/programme/congress-programme/
[4] https://www.stats.gov.cn/sj/ndsj/2023/