AS ESTRATÉGIAS LOGÍSTICAS E O USO DAS INFRAESTRUTURAS DE TRANSPORTES E ARMAZENAMENTO DO SETOR CERÂMICO

20/06/2016 13:00

A região de Criciúma/SC é um dos principais pólos cerâmicos brasileiros, sabemos que a concentração geográfica é uma das características da cadeia produtiva de revestimentos cerâmicos, portanto, grande parte das empresas está ali concentrada, o que é uma importante vantagem competitiva. Com a terceirização oriunda da reestruturação produtiva nos anos de 1990, além das indústrias cerâmicas Santa Catarina passou a contar com outras indústrias, tais como, máquinas e equipamentos, insumos minerais e químicos, embalagens, fritas, esmaltes, corantes, tijolos refratários, além de manutenção, armazenagem e transportes e serviços logísticos. Afirma-se que a terceirização foi uma estratégia competitiva adotada por muitas indústrias a fim de diminuir os custos de produção, pois especializaram-se em seu core business, isto é, a produção de revestimentos cerâmicos.https://static.wixstatic.com/media/ca979d_41710b81d4ab42e9a39045922d2e2186~mv2.jpg

As estratégias logísticas e o uso das infraestruturas de transportes e armazenamento são analisados considerando toda a cadeia de suprimentos, incluindo o transporte e suas estratégias de armazenamento como parte fundamental de todas as etapas do sistema econômico. Destaca-se a utilização da logística como importante estratégia competitiva a fim de otimizar o uso das infraestruturas de transportes e armazenamentos existentes.
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Tags: Indústria cerâmicaTransportes e Logística

Transporte público coletivo e mobilidade urbana na Região Metropolitana da Grande Florianópolis

20/06/2016 11:23

A Região Metropolitana de Florianópolis possui aspectos derivados de sua Formação Sócio-Espacial que dificultam o planejamento e a execução de planejamentos em transportes. Dificulta também as interações espaciais e, portanto, os saltos dialéticos no sentido do desenvolvimento. A própria escolha do assentamento principal da colonização portuguesa, que inicia no lado oeste da Ilha de Santa Catarina, na porção mais próxima do continente é um ponto fundamental, derivado deum planejamento colonial que buscava a adaptação das edificações ao relevo acidentado, preocupando-se fundamentalmente com a defesa territorial. Posteriormente (1748-1756), a tradição açoriana de partilha dos lotes levou à formação de servidões. Esta consistiuna herança de parte das terras, para cada filho que se casava e constituía uma nova família, donde a grande fragmentação dos lotes exigia a abertura de caminhos que conferissem acesso às estradas principais, formando caminhos (“servidões”) estreitos e longos, que chegam a 4 quilômetros de comprimento, ineptos às atuais necessidades de mobilidades.

Estas formas presentes no espaço urbano da região pouco se modificaram com o passar do tempo, pela pouca intervenção histórica do Estado no sentido da máxima eficácia da mobilidade terrestre. Em parte em função disso, os transportes públicos são severamente afetados pelos congestionamentos, pela carência de acessos e, pela dispersão urbana nas pontas das servidões, as quais quase sempre exigem aproveitamentos de linha que reduzem a eficácia do serviço de transporte por ônibus. Na parte insular da capital – a Ilha de Santa Catarina – então, desenvolveram-se instalações públicas de diferentes autarquias do estado e da União (desde 1950), fomentando outros investimentos, intensificando o comércio e os serviços e assim, gerando um polo de atração de mobilidade insular, destino preferencial de fluxos dos arrabaldes insulares e continentais. É neste contexto que principiam os serviços de transporte público por ônibus, desde a construção da Ponte Hercílio Luz (1920).

Todo este contexto repercutiu no desenvolvimento urbano da ilha e da área continental da Região, também influenciada por um quadro natural singular, onde, além da condição insular – que exige necessariamente uma infraestrutura de ligação – apresenta um quadro natural muito peculiar. Por exemplo, há a ocorrência de maciços que se interpõem entre os assentamentos, como é o caso do morro da Cruz, entre distritos populosos como Trindade, Itacorubi e Centro. Ou o morro da Costa da Lagoa, que juntamente com uma formação lacustre de 12 quilômetros de extensão (a Lagoa da Conceição) dificulta o acesso rodoviário entre oeste e leste da ilha. Os manguezais, como o Manguezal do Itacorubi, que segrega a área central do único acesso pela rodovia SC-401, para o populoso norte da ilha, etc. O próprio alargamento das rodovias de ligação dos balneários é dificultado por estas formações adjacentes. Como é evidente, esta diversidade de formações naturais e formas-conteúdo socialmente construídas, exigem soluções mistas em termos de mobilidade, mas o principal obstáculo aqui é a estrutura institucional, que inclui ferramentas legais, financeiras e um corpo técnico de funcionários capaz de operar com esta complexidade territorial. As interações institucionais entre estado, municípios e União também são fundamentais e explicam muito das dificuldades vividas atualmente na Região Metropolitana de Florianópolis (RMF). Por exemplo, na RMF as frotas de automóveis cresceram significativamente, como resultado de medidas anticíclicas adotadas desde o Governo Lula da Silva (2003-2010). Somente em Florianópolis essa frota cresceu 80,7% e em Palhoça, 210% entre 2002 e 2014, mas nas cidades catarinenses e na RMF, não foram acompanhadas em mesmo ritmo, da reorganização do espaço urbano com reforço do transporte público. A produção de imóveis, também estimulada pelo Estado, expandiu a mancha urbana da região a taxas altíssimas, desconsiderando a necessidade de acesso adequado aos centros urbanos, gerando inclusive processos de expulsão das baixas rendas para periferias ainda mais distantes. As dificuldades de geração de densidades urbanas e usos de solo mistos, ao longo corredores estruturantes de transporte público na região refletem, entre outros entraves, as dificuldadesinerentes às características conservadoras – patrimonialistas e clientelistas – da Formação Social brasileira, donde se favorecem os capitais imobiliários que atuam na região (sem que suas ações sejam orientadas) em detrimento da necessidade de uma integração metropolitana do planejamento.

Resultam deste contexto, intensos deslocamentos cotidianos pendulares entre a área continental da RMF, onde predomina a função moradia e, a parte insular de Florianópolis, que ainda centraliza os destinos. Estes deslocamentos são efetuados em média, em 57,8 minutos por transporte público e, em 28 minutos por automóvel, exibindo a baixa competitividade do transporte público, em que pese à necessidade deste serviço, de atrair usuários de automóveis para redução dos congestionamentos. Apesar dos aumentos de custos operacionais conduzidos por este cenário, os capitais de transporte mais dinâmicos imprimem estratégias logísticas, mas também extra-econômicas, as quais não necessariamente resultam em eficácia para o usuário. Estas, no entanto, garantem a continuidade destes capitais (eficiência econômica) apesar do ambiente ineficaz em que operam e, em especial, dos commutings (continente-ilha) e entre núcleos distantes da ilha (norte-centro e sul-centro).

Vale ressaltar que este padrão de deslocamentos foi condicionado pela estruturação da região, baseada na urbanização ao longo de eixos rodoviários, que passaram a funcionar como avenidas urbanas. Não há, no entanto, uma governança integrada destas infraestruturas, em função do que, ainda são operadas como rodovias, isto é, sem infraestruturas específicas para transportes públicos. Estes problemas são muito presentes no norte da Ilha, em São José e em Biguaçu, cujo viário preexistente é baseado em servidões, seguido de uma expansão urbana recente desordenada e sem alternativas viárias de acesso adequadas, aos novos loteamentos. A urbanização dispersa já se encontra no extremo sul do município de Palhoça, aonde as frequências de transporte coletivo chegam a intervalos de até 4 horas, com o agravante de que aproximadamente 40% dos usuários do transporte público são commuters, os quais, em horários de pico, levam cerca de 3 horas diariamente para o centro de Florianópolis, devido aos congestionamentos. Em suma, as contradições entre a organização espacial e os sistemas de transportes públicos na RMF resultamde fragilidades institucionais na escala metropolitana, as quais dificultam uma ação mais efetiva sobre estes problemas. São determinadas também, pela ausência de uma política nacional e estadual de subsídios públicos; de estímulo ao emprego de outras tecnologias de transportes integradas; de contratos de concessão ineficazes e pouco adaptados às diferentes demandas espaciais e; licitações pouco atraentes para que novos capitais atuem no setor e em particular, na RMF. Assim, resulta que, em geral, o serviço de transporte tem sido produzido pelos mesmos agentes que o fizeram desde seu início, com pouco estímulo à inovação e em prejuízo do usuário.

Rodrigo Giraldi Cocco

Doutor em Geografia

Departamento de Geociências

Universidade Federal de Santa Catarina

Dinâmica econômica e recentes transformações no setor portuário catarinense

20/06/2016 11:20

O capítulo analisa as principais transformações recentes do setor portuário de Santa Catarina. O estado apresenta uma desconcentração dos fluxos marítimos, com portos e terminais dinâmicos que movimentam produtos agrícolas e industriais. A expansão do transporte marítimos de longo curso, especialmente na última década, é reflexo das inovações setoriais, da operação de terminais modernos, do incremento da demanda, da oferta de crédito, das inversões públicas e privadas, dos incentivos fiscais e tributários, das novas parcerias comerciais do país, do sistema normativo, das estratégias logísticas, entre outros.

A dinâmica da economia catarinense induz a importantes mudanças na produção, na circulação, nos empregos, na renda e no consumo. As transformações ocorrem nas zonas primárias (áreas portuárias marítimas ou flúvio-marítimas) e nas zonas secundárias (retroportuárias). No Vale do Itajaí, as atividades portuárias geram um intenso efeito multiplicador regional, caso das transportadoras rodoviárias, armadores, agentes de cargas, estaleiros, portos secos, terminais alfandegados, comércio, serviços especializados e construção civil.
Portos/terminais possuem a capacidade de aglomeração das atividades (industrial, comercial e serviços). A BR-101 e o Vale do Itajaí apresentam uma grande concentração de atividades que servem de suporte especialmente ao Porto de Itajaí/SC e ao terminal da Portonave (Navegantes/SC). O Porto de São Francisco do Sul/SC – diferentemente de Itajaí/SC, Navegantes/SC e Itapoá/SC (contêineres) – possui uso múltiplo, ou seja, são movimentados granéis sólidos, granéis líquidos e carga geral. É o porto que mais movimenta cargas em Santa Catarina, atendendo demandas do Sul, Sudeste e Centro-Oeste do país, principalmente em relação às commodities.
O moderno terminal de Itapoá/SC aumentou a competição no setor portuário catarinense, pois está “retirando” algumas cargas conteinerizadas do complexo do Itajaí. Inovações tecnológicas, softwares, estratégias logísticas, ampla área de atracação, extensa retroárea etc., permitem otimizar as operações realizadas e atraem empresas exportadoras e importadoras.
Apesar do incremento nos últimos anos, o Porto de Imbituba/SC possui uma movimentação inferior aos demais portos e terminais catarinenses, devido ao menor processo de modernização. Sua expansão é fundamental para fomentar o desenvolvimento do litoral sul de Santa Catarina, através da atração de investimentos públicos e privados.
O crescimento da movimentação de contêineres e cargas na última década elucida uma forte demanda para todos os portos e terminais catarinenses, com destaque às exportações e importações da Ásia. Entretanto, o setor portuário e o estado apresentam um desenvolvimento desigual e combinado, sendo mais intenso nas nações periféricas. Por um lado, o terminal de Itapoá/SC é considerado um dos mais modernos do país, por outro, o Porto de Imbituba/SC é menos competitivo.
Apesar da relativa modernização do setor portuário de Santa Catarina, há diversos pontos de estrangulamento que prejudicam a economia do estado, como a burocracia, cabotagem incipiente, falta de ligações ferroviárias aos portos, congestionamentos de caminhões nos acessos portuários, modelo neoliberal de concessões, investimentos setoriais insuficientes, morosidade na liberação dos recursos e nas obras, dificuldade de alguns portos expandirem suas infraestruturas, entre outros.
Nelson Fernandes Felipe Júnior
Núcleo de Estudos sobre Transporte (NETRANS)
Docente da Universidade Federal de Sergipe

Transporte aéreo de cargas em Santa Catarina

20/06/2016 11:17
O termo eficiência é o imperativo máximo na circulação de cargas em geral e, sobretudo, uma das principais incógnitas nos setores de logística das empresas especializadas em transporte. Agrava-se o problema a partir do momento que, quanto maior a fluidez, maiores serão os custos, tornando o processo ainda mais complexo. Neste contexto, as empresas buscam a combinação entre agilidade no transporte e custos fixos competitivos, afim de que suas mercadorias convertam a maior lucratividade ao serem consumidas.
 
O modal aéreo é um importante meio de transporte de mercadorias de médio e alto valor agregado devido à possibilidade de percorrer longas distâncias em menor tempo em relação aos demais modais de transportes. Sendo assim, o presente trabalho tem o intuito de realizar uma discussão sobre o papel do transporte aéreo de cargas em Santa Catarina, levando em consideração a intensidade dos fluxos, a origem/destinos e a tipologia das cargas movimentadas e as estratégias logísticas desenvolvidas pelos aeroportos e companhias aéreas de cargas. Diante disso, a pesquisa está norteada pelos seguintes problemáticas: quais os principais fatores que fazem com que, muitas das cargas que poderiam ser transportadas pelo modal aéreo, são movimentadas somente pelo modal rodoviário em Santa Catarina? E Quais as estratégias logísticas dos setores que utilizam o transporte aéreo de cargas em Santa Catarina?
 
Santa Catarina possui trinta e dois aeroportos – vinte e dois públicos e dez privados – cadastrados e autorizados pela ANAC, no entanto, apenas três, concentrados na faixa litorânea, são considerados importantes para a movimentação de cargas aéreas, além de serem administrados pela Empresa Brasileira de Infraestrutura Aeroportuária – INFRAERO são esses: o aeroporto de Internacional Hercílio Luz, na capital Florianópolis/SC; o Aeroporto Internacional Victor Konder, em Navegantes/SC e o Aeroporto de Joinville/SC, respectivamente, são os que mais movimentam cargas no estado.
 
Na região do Vale do Itajaí, os aeroportos de Joinville/SC e Navegantes/SC possuem a movimentação e armazenagem de cargas direcionadas ao contexto internacional, em especial ascargas de importação. O acumulado do ano de 2014 de cargas internacionais que passaram pelo aeroporto de Joinville foi de 1.885 toneladas, em grande medida, estimuladas a partir do polo eletro-metal-mecânico. E o aeroporto do município de Navegantes (80 km de Joinville) operou 6.523 toneladas de cargas internacionais, sobretudo de importação, tornando-se o aeroporto com maior índice de cargas internacionais operadas, seguido por Joinville.
 
Estes aeroportos possuem o maior fluxo de mercadorias, devido, principalmente, ao potencial de cargas movimentadas pelos portos, pela integração rodoviária aos grandes centros (extremo sul e sudeste do país) e pela presença de setores produtivos de diversos segmentos. Além de alimentarem os principais centros de movimentação de cargas aéreas do país, como o aeroporto de Congonhas, aeroporto de Guarulhos e o aeroporto de Viracopos, localizados no estado de São Paulo e para as capitais Curitiba/PR e Porto Alegre/RS.
 
O aeroporto internacional de Florianópolis/SC é responsável pela maior movimentação de cargas nacionais no estado catarinense, em 2014, foram operadas 2.413 toneladas (INFRAERO CARGO, 2015). O dinamismo de cargas nacionais transportadas pelo aeroporto da capital se dá pelo elevado número de voos regulares para os principais hubs aeroportuários do país, respectivamente, para São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Porto Alegre e Curitiba.
 
O principal aeroporto da região Oeste do estado encontra-se no munícipio de Chapecó e mantem regularidade de voos de passageiros e, consequentemente, de cargas nacionais. Impulsionado em grande medida pelo dinamismo das agroindústrias da região, também é a principal rota aérea de cargas interestadual de Santa Catarina que é conectada à Florianópolis. No período de cinco anos (2006-2010) o fluxo de Chapecó para Florianópolis foi de 849 toneladas e de Florianópolis para Chapecó de 1.014 toneladas.
 
Com o desenvolvimento do comércio eletrônico, que, em 2013 as lojas virtuais faturaram R$ 28,8 bilhões e em 2014 houve um crescimento de 24%, chegando em R$ 35,8 bilhões (E-bit, 2015), em que, a média dos gastos anuais dos brasileiros com o comércio eletrônico, para o ano de 2014, foi de R$ 248,57. A capital Florianópolis, além de concentrar algumas atividades de TI e lojas virtuais, está entre as 30 cidades brasileiras que mais movimentaram cargas do comércio eletrônico, obtendo a 15ª posição e um o gasto médio por habitante foi de R$ 303,03. De acordo com a pesquisa da Conversion (empresa especializada no setor de comércio eletrônico), em 2014, os tíquetes adquiridos em Florianópolis ficaram acima de cidades como São Paulo e Porto Alegre e totalizaram R$ 368,5 milhões em vendas pela internet (FECOMERCIO-SC, 2014).
 
Neste ramo em ascensão, no qual, se enquadra o e-commerce, o papel dos correios torna-se fundamental para o desenvolvimento do comércio eletrônico. O centro de triagem de cargas aéreas dos Correios/SC, a “base Florianópolis” – responsável por atender todo o estado – conta com o fluxo de dois aviões cargueiros de médio porte (aeronave Boeing 727-200F) com capacidade de 25 toneladas cada uma. A regularidade dos voos no aeroporto Hercílio Luz é diária, entre segunda feira a sábado, com dois voos por dia. Os destinos são para todos os estados do Brasil (CORREIOS, 2013).
 
Mesmo com o crescente dinamismo do setor aéreo de cargas, os aeroportos de Santa Catarina possuem sérias deficiências infraestruturais, tais como tamanho da pista adequado para recebimento de aviões cargueiros de grande porte, terminais de cargas com baixa capacidade de armazenamento, entre outras. O que resulta na perda de competitividade em relação aos aeroportos de outros estados. Desta forma, as cargas internacionais, no caso da importação, desembarcam nos aeroportos de Porto Alegre/RS, Curitiba/PR e São Paulo/SP, recebem uma Declaração de Transito Aduaneiro (DTA) da Receita Federal, e são transportadas pelo modal rodoviário até os aeroportos catarinenses para iniciarem o processo de liberação da carga, triagem, parametrização, etc.
 
Neste sentido, a partir de uma caracterização geoeconômica das regiões de Santa Catarina, foi possível diagnosticar um perfil das principais empresas que movimentam cargas aéreas e as funções das infraestruturas aeroviárias do estado. Constatamos neste estudo algumas possibilidades para que o transporte aéreo de cargas em Santa Catarina possa se desenvolver com maior dinamismo. Sendo a mais próxima e, para nós a mais viável a construção de uma nova pista e ampliação do Terminal de Cargas (TECA) do aeroporto de Navegantes/SC. Este, torna-se uma das melhores alternativas para o setor de cargas aéreas, principalmente pela sua localização, ou seja, proximidade dos portos de Itajaí e Navegantes, além do fácil acesso a BR 101 que engloba a região do Vale do Itajaí, Norte e Grande Florianópolis.
Diogo Quintilhano
Doutorando em Geografia
Departamento de Geociências
Universidade Federal de Santa Catarina

As ferrovias em Santa Catarina e as contradições na produção do espaço

20/06/2016 11:03

O estado de Santa Catarina teve cinco linhas férreas construídas em seu território, a saber: Ferrovia Tereza Cristina – FTC (1884), Estrada de Ferro Santa Catarina – EFSC (1909), Estrada de Ferro São Paulo-Rio Grande – EFSPRG, Ramal São Francisco (1913) e o Ramal Sul entre Mafra e Lages (1969). Essas linhas férreas constituíram um importante fator de desenvolvimento, auxiliando para o escoamento do excedente da pequena produção mercantil, transportes de imigrantes e consolidação de algumas colônias, posteriormente, municípios.

As estradas de ferro catarinense seguiram as mudanças na lógica de investimento em transporte, do Governo Federal. Assim, parte da malha catarinense foi desativada entre a década de 1960 e 1970 após a construção das rodovias. Em 1997, no contexto da desestatização da antiga Rede Ferroviária Federal-FFSA, a malha ferroviária catarinense foi concedida para dois consórcios: a malha da Tereza Cristina para um consórcio com o mesmo nome e o restante foi concedido para o Consórcio Ferrovias Sul Atlântico (FSA) (alterado posteriormente para Amércia Latina Logística-ALL). Deficiências na elaboração dos contratos e falta de fiscalização possibilitaram a desativação de trechos que não interessavam as concessionárias. Assim, o estado possui três ramais ferroviários operantes: os ramais da Ferrovia Tereza Cristina- FTC que ligam as minas de carvão até a termelétrica Jorge Lacerda, no município de Capivari de Baixo; o Ramal Sul que corta o estado entre Mafra e Lages e o ramal São Francisco entre o porto de São Francisco do Sul e Mafra, que são utilizados pela ALL.
Os transportes, a logística e o armazenamento são forças produtivas importantes para a circulação do capital, contudo o sistema ferroviário é relevante, não apenas para o transporte de cargas, mas também para ampliar as interações espaciais, expandir as dinâmicas regionais, aumentar a competitividade e contribuir para a integração nacional. Santa Catarina, da mesma forma que todo o Brasil, necessita de uma expansão da malha férrea e apresenta setores que seriam favorecidas com a existência de uma rede férrea de transporte. Parte das exportações do estado são produtos tipicamente ferroviários como as carnes, o fumo, a soja e a madeira, mas seguem por rodovias, devido a inexistência de uma ferrovia que atenda a demanda regional.
A despeito das necessidades ferroviárias do estado, o Programa de Aceleração do Crescimento-PAC 2 (lançado em 2011) apresentou o projeto de construção do corredor ferroviário cruzando o estado de leste a oeste, projeto antigo de intersse estadual. Também foram retomadas as discussões para a construção da Ferrovia Litorânea, a modernização do Tronco Sul da antiga RFFSA entre a cidade de Mairinque/SP até o Porto de Rio Grande/RS e a construção do eixo sul da Ferrovia Norte-Sul (EF-151) ligando Panorama/SP até Chapecó/SC.
A partir desse contexto, o capítulo busca analisar alguns aspectos na discussão sobre a ampliação da rede ferroviária catarinense. A questão que norteia o capítulo é identificar quais os maiores entraves para a construção da Ferrovia Oeste-Leste (ou “Ferrovia do Frango”) e da Ferrovia Litorânea e outros traçados que atendam aos interesses de fluidez do território catarinense. A metodologia utilizada foi sobretudo revisão bibliográfica sobre as ferrovias e leitura de textos que abordam a realidade atual do estado e do país. Porteriormente foi realizada a analise das demandas ao setor de transporte ferroviário. Foram levantados dados da produção estadual, assim como busca de informações e documentos em órgãos públicos e empresas.
De acordo com a VALEC – Engenharia, Construções e Ferrovias S.A. (2013) o projeto do Corredor Ferroviário de Santa Catarina deverá ligar o Porto de Itajaí ao município de Dionísio Cerqueira (862 km). Em 2013 a VALEC abriu edital para contratação de empresa para elaboração de Estudo de Viabilidade Técnica dessa ferrovia, mas ele foi suspenso pelo Tribunal de Contas da União por irregularidades na concorrência. Na Assembleia Legislativa do estado existem várias proposições de deputados para impetrar alterações no trajeto da Ferrovia Oeste-Leste. Tais fatos evidenciam as divergências de interesses quanto ao traçado e demonstram a força dos pactos de poder regionais e nacionais que sobrepujam os interesses sociais.
 Fffoi possível identificar outros problemas que implicam na não construção dos trechos ferroviários, a saber: inexistência de um estudo claro e objetivo sobre os vários aspectos que envolvem a implantação de uma rede ferroviária como geologia, economia regional, demandas, etc.; inexistência de recursos públicos para construção; falta de investimentos por parte da da iniciativa privada; deficiências de planejamento e execução do Estado; uso de projetos para campanhas partidárias e os conflitos entre projetos do governo e de Estado.
Os problemas identificados no estado de Santa Catarina são parte de um problema de infraestrutura em âmbito nacional, apesar das suas particularidades históricas. Em ambos os casos deveria prevalecer os interesses públicos, com a integração dos modos de transporte regional, estadual e nacional, contudo, prevalecem os interesses do capital privado e de grupos locais e regionais.
Alessandra Júlio dos Santos
Doutoranda em Geografia
Departamento de Geociências
Universidade Federal de Santa Catarina